Que curiosa é a vida. Justo agora, que estou num momento tão musical, resolvi homenagear Hilda Hilst e descobri que a poetisa, em parceria com Zeca Baleiro, lançou um cd, com poemas dela musicados por ele. Incrível!
A iniciativa foi de Hilda, após ouvir um cd do artista, enviado a ela pelo própio Zeca. Conta-se que remeteu ao músico um disquete com seus poemas e propôs a parceria, que virou o disco Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio, primeiro capítulo do livro Júbilo Memória Noviciado da Paixão, de Hilst.
O disco conta com a participação de várias cantoras e, segundo o que andei pesquisando, o resultado é de uma sonoridade muito gostosa.
Ainda não ouvi o cd, mas estou encantada com a novidade e curiosa para conhecer essa mistura. Parece mesmo a cara do Zeca, que gosta é de embolar as coisas, misturá-las. Parece mesmo a cara de Hilda, que sempre foi considerada uma mulher à frente de seu tempo, ousada, que descontrói padrões e preconceitos.
I
É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora
E sozinha supor
Que se estivesses dentro
Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora
Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.
II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.
Continua...
E o tempo de amanhã será riqueza:A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.
II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.
Continua...
Foto: originalmente em uol.com.br
Um comentário:
Adoro quando você "produz" no seu blog. Você escreve muito bem meu amor.
Sobre o texto, parece que a parceria deve ter sidoexcelente, pois reuniu pessoas muito legais. Esse CD tem que fazer parte da nossa coleção, não é vidona?
Amo o Brusca, escreva aqui sempre!
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