Em maio, o blog presta homenagem, não a um, mas a dois poetas. Assim, resolvo a dificuldade da escolha e fico em paz com a consciência e com a poesia!
Pois bem. É hora de apresentar nossos homenageados e dizer o porquê desta escolha. Tentarei fazer isso intercalando informações ora sobre Mário de Sá-Carneiro, ora sobre Manuel Alegre. Este texto, porém, não pretende ser uma descrição pormenorizada da vida dos poetas (abaixo darei indicações de onde as encontrar), mas um comentário mais geral de alguns pontos selecionados em que, ora suas biografias se aproximam, ora se afastam. Mas antes, deixem-me explicar por que Sá-Carneiro e Manuel Alegre.
Conheci a obra de Mário de Sá-Carneiro através da cantora Adriana Calcanhotto. Parece estranho, mas foi exatamente assim: o cd Público, já citado aqui no blog, traz um poema do escritor musicado pela cantora brasileira. Talvez muitos aqui também conheçam a canção “O Outro”, que diz assim: “Eu não sou eu/ nem sou o Outro/Sou qualquer coisa de intermédio/pilar da fonte de tédio/que vai de mim para o outro”. Esses versos traduzem bem a tônica da poesia de Sá-Carneiro: uma busca angustiante por definir a si e ao seu mundo. Depois disso, instigada pela música, procurei e conheci outros poemas, além de ter lido também a novela A confissão de Lúcio, que, sem querer, encontrei na casa da minha avó, entre as coisas da prima Anabelle.
E por falar nela, foi também Anabelle quem me apresentou ao poeta e político português Manuel Alegre, através do livro Cão como Nós, aliás, leitura belíssima e muito prazerosa. Agora que expliquei brevemente os motivos da dupla homenagem, já posso continuar.
Dizia eu que, ao lermos a biografia de cada um, podemos identificar semelhanças e diferenças. Entre os fatores que os aproximam, podemos citar a nacionalidade portuguesa e a inseparabilidade da vida e da poesia. A respeito da última, Alegre, em um texto autobiográfico do site que leva o seu nome, escreve: “Escrita e vida são inseparáveis. Embora eu entenda a poesia como experiência mágica, algo que está aquém e além da literatura.” Se a escrita é inseparável da vida do poeta, a poesia de Mário de Sá-Carneiro é um ótimo exemplo desta ligação. Basta analisarmos seus poemas e logo somos levados a reconhecer ali a confusão mental e a angústia dilacerante que levariam o jovem poeta ao suicídio aos 26 anos de idade.
Temos na morte outra possibilidade de aproximação entre os dois poetas. Manuel Alegre, vivo e atuante no cenário político português atual, tendo sido candidato à Presidência em 2005, não esconde sua angústia da morte ao revelar: “Tenho desde pequeno a obsessão da morte. Não o medo, mas a consciência aguda e permanente, sentida e vivida com todo o meu ser, de que tudo é transitório e efémero e não há outra eternidade senão a do momento que passa”. Mas, se a consciência da morte se faz presente, não tem como efeito diminuir as forças do poeta e o seu desejo de viver. Ao contrário, Alegre deixa claro que nunca viveu postumamente e que não procurou se construir por meio da literatura, na qual nem sequer acredita. Mas, “na poesia, sim”.
Temos aqui uma comparação paradoxal, pois, se é verdade que a obsessão da morte aproxima a vida dos dois escritores, a forma como cada um viveu esta obsessão revela diferenças fundamentais: Sá-Carneiro resolve o sofrimento através do suicídio; Alegre, através da própria vida.
Há muitas informações interessantes sobre a vida de ambos os poetas, e recomendo que vocês não desprezem tal leitura. Meu texto teve a intenção de despertar a curiosidade e indicar-lhes o caminho. Assim, os links abaixo são dos sites que serviram de fonte de consulta para mim e que podem ajudar a esclarecer os pontos que não abordei aqui, a quem tiver interesse de conhecer um pouco melhor. Boa leitura e até a próxima!
Bia Loivos.
http://www.manuelalegre.com/index.php?area=1500
http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet070.htm
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