domingo, 8 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher

No poema de Vinicius de Moraes que transcrevo abaixo, dedicado a Nelita, quarta esposa do poeta, com quem este viveu de 1963 a 1969, vemos um homem disposto e dedicado à mulher por quem se apaixonou. Ele zela por sua saúde, pede que lhe tragam seus instrumentos de trabalho (papel, esferográficas) - quer estar pronto para a poesia -, porque sua amada vai chegar.

Neste 08 de março, desejo que cada mulher tenha um homem pronto e dedicado a ela, a amá-la e a cobri-la de carinhos, mimos e presentes. Mas não apenas isso. Queremos homens que nos respeitem, que nos façam ter orgulho deles, que tenham qualidades admiráveis como lealdade, afetividade, compaixão, senso de justiça, honestidade. Queremos pais zelosos para os nossos filhos, que os façam melhores homens e melhores mulheres do que conseguimos ser.

Queremos a felicidade!
Feliz Dia Internacional da Mulher a todas as mulheres!


A brusca poesia da mulher amada (III)
Vinicius de Moraes
(A Nelita)

Minha mãe, alisa de minha fronte todas as cicatrizes do passado
Minha irmã, conta-me histórias da infância em que que eu haja sido herói sem mácula
Meu irmão, verifica-me a pressão, o colesterol, a turvação do timol, a bilirrubina
Maria, prepara-me uma dieta baixa em calorias, preciso perder cinco quilos
Chamem-me a massagista, o florista, o amigo fiel para as confidências
E comprem bastante papel; quero todas as minhas esferográficas
Alinhadas sobre a mesa, as pontas prestes à poesia.
Eis que se anuncia de modo sumamente grave
A vinda da mulher amada, de cuja fragrância já me chega o rastro.
É ela uma menina, parece de plumas
E seu canto inaudível acompanha desde muito a migração dos ventos
Empós meu canto. É ela uma menina.
Como um jovem pássaro, uma súbita e lenta dançarina
Que para mim caminha em pontas, os braços suplicantes
Do meu amor em solidão.
Sim, eis que os arautos
Da descrença começam a encapuçar-se em negros mantos
Para cantar seus réquiens e os falsos profetas
A ganhar rapidamente os logradouros para gritar suas mentiras.
Mas nada a detém; ela avança, rigorosa
Em rodopios nítidos
Criando vácuos onde morrem as aves.
Seu corpo, pouco a pouco
Abre-se em pétalas...
Ei-la que vem vindo
Como uma escura rosa voltejante
Surgida de um jardim imenso em trevas.
Ela vem vindo... Desnudai-me, aversos!
Lavai-me, chuvas! Enxugai-me, ventos!
Alvoroçai-me, auroras nascituras!
Eis que chega de longe, como a estrela
De longe, como o tempo
A minha amada última!

Um comentário:

Tikão disse...

Te amo minha Rosa, Parabéns por essa data tão especial que é o dia Internacional da Mulher.